Sou suspeito para falar em Feira do Livro em Santa Maria por não ter a necessária isenção do julgador, pois, com ela, mantenho, de longa data, relações especiais e profundas, carregadas de significados e valores.
Falo como leitor que já frequentou por anos a linda e privilegiada Praça Saldanha Marinho, andando por entre estandes, assistindo às aberturas e encerramentos, conversando com estreantes e consagrados escritores. Comi, na Feira, crepes e cocadinhas de primeira qualidade, coisas de fazer lamber os beiços, ouvi artistas, jovens e veteranos músicos. Ah! o velho Setembrino com seu saxofone, caminhando no meio do povo, quem esquece?
Como leitor, tomei livros em minhas mãos, li orelhas, até cheguei a ler algumas de suas páginas, comprando os do meu agrado. Os livros, na Praça, assim tão próximos, tão disponíveis, tão palpáveis, deixam de lado o formal para estabelecer uma relação mais íntima e sedutora.
Falo também como autor que teve o privilégio de colher a presença de amigos e leitores em lançamento de livro, que, na Praça, estiveram para dizer da sua amizade, do apoio e do incentivo a quem se dedica à difícil arte de escrever, traduzindo idéias, valores e emoções em palavras. O autor, na Saldanha Marinho, é também árvore, é pássaro, é energia advinda de gente que quer andar no mundo das letras e das palavras, dos pensamentos e das histórias, no mundo da imaginação e do real.
Gozei, igualmente, da oportunidade de um dia ter sido patrono pela escolha generosa de uma comissão que honrou desmedidamente um santa-mariense, talvez, porque viu nele, acima e antes de tudo, um apaixonado pela sua cidade.
A 48º Feira do Livro deste 2021 será, por certo e de novo, mais um grande evento na Cidade Cultura. Permitirá, mais uma vez, que o povo frequente a sua Praça, buscando o alimento que não perece, a convivência que revitaliza, o olhar que torna o passado mais visível e o futuro mais próximo em perspectivas e horizontes. A 48ª Feira do Livro, ao distinguir Leonardo Brasiliense, como patrono, Lucas Visentini, como professor homenageado, e Guido Isaía, in memoriam, não só distingue com justiça uma personalidade do passado, como, merecidamente louva e enaltece o presente, colocando em destaque quem já muito fez, nas letras, por Santa Maria.
Por isso, e por muito mais, vamos todos à Saldanha Marinho. É hora de frequentar a praça, mesmo em tempo de pandemia, obedientes aos devidos protocolos. Depois, fazer o essencial: comprar livros, conversar com amigos e autores, ouvir música, curtir, à Domenico de Masi, o ócio criativo, que humaniza, enriquece e alegra a todos. Por fim, um muito obrigado à comissão organizadora da Feira, pelo muito que está fazendo por Santa Maria!
Texto: Máximo Trevisan
Advogado e escritor